O vício de complicar: por que transformamos o simples em impossível
Ser simples virou contracultura. Em muitos ambientes de trabalho, nada pode ser direto. Tudo precisa ter siglas, reuniões, canvas, frameworks e apresentações de 50 slides. A complexidade virou fantasia intelectual: parece inteligente, parece moderno, parece profundo. Porém, na prática, só torna o óbvio impossível.
O problema não é ter método. O problema é usar método como disfarce para a falta de decisão. Empresas que deveriam resolver começam a adorar o teatro da sofisticação: processos longos, reuniões que não acabam, e um ciclo infinito de “vamos discutir mais um pouco”.
Nos últimos anos, as organizações criaram uma máquina de dificultar o trabalho. Surgem novas metodologias, linguagens e rituais corporativos todos os meses — todos prometendo inovação, velocidade e eficiência. Mas os números mostram o contrário.
A Bain & Company (2024) indica que a complexidade organizacional consome até 25% da capacidade produtiva das equipes. A Harvard Business Review aponta que empresas com processos simples crescem 30% mais rápido e possuem quase 50% mais engajamento interno. Mesmo assim, continuamos criando camadas, aprovações e fluxos inúteis.
Por quê?
Porque o complexo dá status. Quem faz um sistema complicado parece indispensável. Fala parece especialista. Quem trava processos parece estrategista. E assim nasce uma cultura onde o ego vale mais do que a entrega.
Em muitos lugares, a complexidade virou arte. Existe uma elite corporativa que prefere parecer inteligente do que fazer o simples funcionar. O resultado é familiar: relatórios gigantescos, reuniões intermináveis, e decisões que nunca chegam.
O fetiche da apresentação substitui o resultado real. Em vez de resolver, descrevemos o problema em PowerPoints coloridos. Ao invés agir, propomos comitês. Em vez de entregar, criamos etapas. E enquanto o discurso fica mais sofisticado, o cliente continua sem solução, o time continua travado, e o negócio continua perdendo tempo.
A Deloitte (2025) apontou que 61% dos líderes latino-americanos admitem que seus processos internos são “desnecessariamente complexos”. Já a Gartner (2025) afirma: o maior diferencial competitivo do momento é a simplicidade operacional — e ninguém quer admitir isso porque parece “simples demais”.
Complexidade tem um preço alto.
Ela custa horas, energia, dinheiro e foco.
Ela destrói prazos, desmotiva times e mata projetos antes de nascerem.
A McKinsey (2025) calculou que empresas que não combatem a complexidade perdem até 40% da produtividade potencial. A Accenture (2024) concluiu que equipes atoladas em burocracia entregam 37% menos valor mensurável. Em outras palavras: complexidade é o imposto invisível que o ego cobra da produtividade.
No Brasil, esse imposto é ainda mais caro. Aqui, quem tenta simplificar é visto como quem não “entende a importância da estrutura”. Mas a estrutura não foi feita para enfeitar processo — foi feita para gerar resultado. Quem defende processos enxutos, muitas vezes, entende o negócio melhor do que quem prefere complicar.
Liderança não é empilhar procedimentos. É remover ruído.
O verdadeiro líder não cria obstáculos: destrava caminhos.
Ele não protege o status quo: ele faz o trabalho andar.
Steve Jobs costumava dizer que simplicidade é a maior forma de sofisticação e ele tinha razão. Simplificar exige coragem. Exige desapego. Exige enfrentar o desconforto de acabar com o que é bonito, mas inútil.
Líderes de verdade fazem perguntas que ninguém quer ouvir:
Quem faz essas perguntas enfrenta resistência, porque simplificar tira máscaras. O Ministério da Burocracia corporativa vive de parecer importante. E nada ameaça mais essa indústria do que eficiência real.
Falamos de inteligência artificial, automação e futuro. Porém, o maior gargalo não é a tecnologia. É a incapacidade de executar o básico.
Inovar é fácil no discurso. Difícil é transformar ideia em entrega real.
A PwC (2025) mostra que 72% dos executivos brasileiros afirmam que simplificar processos é prioridade estratégica. Mas só 18% conseguiram implementar essa simplificação na prática.
Ou seja: a tecnologia está pronta. Quem não está pronto somos nós.
Falta menos PowerPoint e mais ação.
Menos canvas e mais decisão.
Menos teoria e mais resultado.
A inovação não morre por falta de ideia. Morre por excesso de reunião.
Complicar é um escudo.
Quem fala difícil evita crítica.
Cria processo demais evita cobrança.
Quem apresenta mais do que resolve cria a ilusão de produtividade.
E enquanto isso, a operação continua engessada e o cliente segue esperando.
A complexidade virou desculpa para não decidir. E o medo de decidir virou cultura. Decidir é arriscado. Decidir gera responsabilidade. Então criamos rituais que dão a sensação de movimento, mas não geram mudança.
É como correr em uma esteira: cansa, mas não sai do lugar.
No Brasil corporativo, simplificar é quase subversivo.
Porque simplificar expõe o que realmente funciona — e o que nunca fez sentido.
E quando essas verdades aparecem, cargos, processos e vaidades começam a perder valor.
Por isso, muitas empresas preferem parecer inteligentes do que realmente entregar. E é por isso que as que simplificam ganham: elas chegam primeiro.
A complexidade virou o último esconderijo de quem não quer decidir.
E enquanto algumas empresas continuam construindo castelos de PowerPoint, o mundo real está sendo transformado por quem age.
Simplicidade não é falta de visão.
Simplicidade é foco.
É execução.
É coragem.
Quem domina o simples, lidera.
Quem idolatra o complicado, trava.
Menos ego.
Menos teatro.
Mais entrega.
Porque o futuro não espera quem ainda está formatando a apresentação.
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Que artigo Fantástico!!!! Nunca vi uma verdade corporativa escrita de forma tão transparente mostrando a verdade nua e crua das corporações. Parabéns!!!