Mulheres impulsionam o setor de bares e restaurantes no Brasil

Mulheres impulsionam o setor de bares e restaurantes no Brasil

O setor de alimentação fora do lar tem se consolidado como um espaço de grande representatividade feminina. Atualmente, mais de 1,6 milhão de mulheres atuam na área, desempenhando funções diversas que vão desde a operação de cozinhas até a liderança de negócios. Dados do IBGE, analisados pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), revelam que as mulheres compõem 54% da força de trabalho formal do setor. No mercado informal, essa participação sobe ainda mais, atingindo 56%.

Além de se destacarem como colaboradoras essenciais para o funcionamento dos estabelecimentos, as mulheres também estão à frente de muitos negócios. O estudo da Abrasel aponta que 38,22% das empresas do ramo têm mulheres como sócias, um percentual superior ao de setores como comércio (35,15%), agropecuária (36,61%) e construção civil (24,10%).

Desafios e conquistas das empreendedoras

Embora a presença feminina na gastronomia seja expressiva, as empresárias do setor ainda enfrentam desafios significativos. Entre as principais dificuldades estão a obtenção de crédito, a necessidade de equilibrar a vida pessoal com a administração dos negócios e os obstáculos inerentes à gestão empresarial.

Mesmo diante dessas barreiras, muitas mulheres encontram maneiras criativas e inovadoras para consolidar suas empresas. Com resiliência e determinação, elas transformam sonhos em realidade e promovem impactos não apenas econômicos, mas também sociais e culturais.

De merendeira a referência gastronômica no Amapá

Uma história inspiradora dentro desse cenário é a de Ocinéia Bastos, mais conhecida como Dona Oci. É uma das mulheres que impulsionam o setor de bares e restaurantes. Sua jornada no setor de alimentação começou durante a pandemia, quando, junto com seus filhos, decidiu vender refeições por delivery. Com o auxílio emergencial do governo, montou um cardápio e iniciou a produção em sua própria casa.

O sucesso foi imediato. O Delícias da Oci rapidamente conquistou clientes fiéis e, após três anos de operação exclusivamente via delivery, Dona Oci conseguiu abrir seu primeiro restaurante físico. Desde então, seu negócio não parou de crescer: em 2024, já soma três unidades físicas e cinco pontos de venda operando no delivery, além de dois empreendimentos adicionais, o Delícia de Espeto e o Oci Mercado.

Os planos para o futuro são ambiciosos. A empresária adquiriu um terreno na orla da cidade para abrir um novo espaço, expandindo ainda mais sua atuação. “Eu me emociono todos os dias com nossas evoluções, cada investimento, cada funcionário novo e cada conquista”, conta Dona Oci. Para ela, um dos momentos mais marcantes foi poder comprar uma nova casa enquanto via sua antiga residência se transformar no restaurante dos seus sonhos.

Apesar dos desafios enfrentados ao longo da trajetória, Dona Oci destaca que o apoio da família e dos clientes foi fundamental para seu sucesso. Sua história reforça o poder do empreendedorismo feminino e serve de inspiração para outras mulheres que desejam ingressar no setor.

Da estrada para o sucesso em Aracaju

Outro exemplo notável de empreendedorismo feminino no ramo alimentício é a trajetória de Michele Velho, fundadora do Original Gaúcho Burger. Diferentemente de muitos negócios que iniciam em pontos físicos e depois expandem para food trucks, sua experiência foi o oposto: começou com um food truck itinerante e, após anos de estrada, estabeleceu um restaurante fixo em Aracaju.

Durante a pandemia, Michele e sua equipe perceberam uma oportunidade e passaram a operar em um local estratégico próximo a farmácias, aproveitando o fluxo de clientes. Para fortalecer sua marca, investiu em um aplicativo próprio, presença no iFood e marketing digital com influenciadores. O resultado foi um crescimento expressivo e uma base de clientes cada vez mais fiel.

Com a retomada da economia, a empresária decidiu consolidar o negócio abrindo um ponto fixo. Hoje, o Original Gaúcho Burger está há cinco anos no mesmo endereço, consolidando-se como referência gastronômica na capital sergipana.

Gerenciar tanto um food truck quanto um restaurante físico trouxe desafios distintos, mas Michele soube se adaptar. “A base de gerenciamento eu utilizo a mesma, com tabelas de precificação e acompanhamento de processos, mas as estratégias e metas são diferentes”, explica.

A empresária enfatiza a importância da participação na Abrasel para aprimorar sua gestão. Segundo ela, o diferencial do Original Gaúcho Burger vai além da qualidade dos ingredientes ou da proposta inspirada na gastronomia do Sul do Brasil: está na conexão emocional que estabelece com os clientes.

“Nosso conceito vai além da gastronomia. Contamos nossa história, falamos sobre nossa jornada viajando pelo país e como fomos acolhidos em Aracaju. Isso cria uma identificação com nossos clientes, que compartilham seus próprios sonhos e experiências conosco”, destaca Michele. Esse vínculo fortalece a marca e garante uma clientela fiel.

O impacto do empreendedorismo feminino no setor de alimentação

Histórias como as de Dona Oci e Michele Velho refletem uma transformação maior no setor de bares e restaurantes: a crescente representatividade feminina e a força do empreendedorismo liderado por mulheres. Seja por necessidade, paixão ou tradição familiar, essas empresárias demonstram que a inovação e a persistência são essenciais para alcançar o sucesso.

Apesar dos avanços, desafios como a burocracia para obtenção de crédito e a formalização dos negócios ainda são barreiras a serem superadas. No entanto, iniciativas de capacitação, redes de apoio e associações como a Abrasel têm desempenhado um papel fundamental ao proporcionar suporte e oportunidades para que mais mulheres consigam empreender e prosperar no setor.

A presença feminina na gastronomia não apenas impulsiona a economia, mas também transforma o cenário do setor, trazendo diversidade, inovação e criando ambientes mais inclusivos. O exemplo dessas empreendedoras inspira outras mulheres a seguirem seus sonhos e acreditarem no potencial da gastronomia como uma ferramenta de transformação social e econômica.