Quatro destinos brasileiros reconhecidos pela Unesco
Belém, Belo Horizonte, Florianópolis e Paraty conquistaram o selo de Cidade Criativa da Gastronomia e se destacam por unir tradição, sabores regionais e turismo responsável
Ao pensar em experiências gastronômicas no Brasil, é comum que venham à mente feiras de rua, petiscos em botecos, chefs renomados ou pratos típicos de Norte a Sul. No entanto, poucas pessoas sabem que quatro cidades brasileiras receberam um reconhecimento internacional importante: o título de Cidade Criativa da Gastronomia concedido pela Unesco. Essa nomeação valoriza cidades que utilizam a culinária como ferramenta de desenvolvimento sustentável, com ênfase na produção local, nos saberes tradicionais e na inclusão social por meio da comida.
As cidades brasileiras que integram essa seleta lista são Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Florianópolis (SC) e Paraty (RJ). Cada uma delas carrega uma identidade única à mesa, e todas ajudam a fortalecer o turismo gastronômico, gerar renda, estimular o orgulho local e ampliar o alcance da cozinha brasileira no cenário internacional.
Para os moradores e para os turistas, esse título traz consequências práticas: mais investimentos, rotas gastronômicas, capacitação de profissionais e estímulo ao empreendedorismo culinário. Na prática, visitar uma cidade com essa certificação é ter a certeza de encontrar tradições preservadas, sabores autênticos e experiências que dialogam com memória, cultura e afeto. Em cada prato, uma história é contada. Em cada ingrediente, uma herança é celebrada.
A primeira cidade brasileira a receber o título, em 2015, foi Belém, no Pará. Representando com orgulho a culinária amazônica, Belém destaca ingredientes nativos como tucupi, jambu, açaí, maniçoba e castanha-do-pará. De acordo com Rafael Barros, chef e proprietário do restaurante Amazônia na Cuia, os visitantes estrangeiros se encantam ao descobrir, por exemplo, que o açaí original é servido puro, com farinha, e sem açúcar. “A comida daqui é uma imersão sensorial e cultural. A gente fala de quem planta, de quem colhe, das origens indígenas. É uma verdadeira viagem por tradições ancestrais”, afirma.
Desde o anúncio de que Belém será sede da COP30, o número de turistas aumentou consideravelmente. Hoje, eles representam mais da metade da clientela no restaurante de Rafael. Com cardápio e equipe bilíngues, o estabelecimento mostra como a gastronomia pode ser vetor de valorização cultural e de negócios. Para o chef, o prato que melhor define Belém é a maniçoba, preparado durante sete dias e servido tradicionalmente no Círio de Nazaré. “É um prato que remete à infância, à casa da avó, ao cheiro que invade os cômodos — é pura memória”, resume.
Em 2019, foi a vez de Belo Horizonte entrar na Rede de Cidades Criativas da Unesco. A conquista foi resultado de uma grande mobilização que uniu entidades, chefs, empresários e poder público. Um dos responsáveis por esse movimento foi Ricardo Rodrigues, dono do restaurante Maria das Tranças e ex-presidente da Abrasel-MG. “A primeira candidatura não vingou, mas a segunda mostrou a força de uma cidade inteira em torno da sua gastronomia”, relembra.
A capital mineira se orgulha de ter uma cozinha com raízes fortes, que mistura influências indígenas, africanas e portuguesas, e que se tornou símbolo de hospitalidade. Segundo Ricardo, o reconhecimento internacional impulsionou ainda mais o turismo gastronômico. “Muitos vêm a BH só para comer bem”, diz. No seu restaurante, o carro-chefe é o frango ao molho pardo, uma receita centenária passada por gerações. “Quando um cliente me diz que o prato está com o mesmo sabor de 30 anos atrás, é a maior recompensa que posso ter.”
Florianópolis recebeu o título em 2014 e se destacou por valorizar a culinária açoriana, a pesca artesanal e o uso de ingredientes típicos da Mata Atlântica. A cidade, carinhosamente chamada de Floripa, une sabores do mar, saberes da terra e inovação gastronômica. Ostras frescas colhidas na hora, moquecas com banana-da-terra, pratos com pinhão, taioba e butiá são apenas alguns dos exemplos do que se encontra nas mesas da cidade.
A capital catarinense tem apostado em projetos de turismo sustentável, capacitação de chefs locais e incentivo à gastronomia criativa. Muitos restaurantes trabalham com ingredientes orgânicos e sazonais, além de dialogarem com a preservação ambiental e o respeito às comunidades pesqueiras. Floripa se tornou também polo de eventos, festivais e roteiros voltados à experiência alimentar como patrimônio cultural.
Paraty, no Rio de Janeiro, entrou para a lista em 2017 e é a única cidade do grupo que acumula vários títulos da Unesco, incluindo o de Patrimônio Mundial. Pequena e charmosa, Paraty é um verdadeiro mosaico de influências que vão da colonização portuguesa ao legado afro-indígena, passando pela tradição caiçara e quilombola.
A gastronomia da cidade é marcada pelo uso da banana, da mandioca, dos frutos do mar e da cachaça artesanal. Os eventos gastronômicos da região, como o Festival da Pinga, reforçam esse elo entre comida, identidade e memória. Além disso, a cidade investe na valorização de comunidades tradicionais, promovendo feiras, oficinas e circuitos turísticos que unem cultura alimentar e economia solidária. Provar uma moqueca com banana ou um caldo rústico em Paraty é, de fato, mergulhar em séculos de história.
Ser reconhecida pela Unesco como Cidade Criativa da Gastronomia não é apenas um prêmio — é um compromisso permanente. As cidades que recebem o título se comprometem a promover políticas públicas, incentivar a agricultura familiar, formar profissionais da área de alimentação e democratizar o acesso à cultura alimentar. A comida deixa de ser apenas produto e passa a ser instrumento de transformação social, identidade e bem-estar.
Essas quatro cidades brasileiras provam que o Brasil é diverso, criativo e profundo quando o assunto é gastronomia. E mais: mostram que bares, feiras e restaurantes podem ser vitrines vivas da nossa cultura. Cada uma à sua maneira, Belém, BH, Floripa e Paraty nos convidam a conhecer o Brasil por um novo olhar o olhar do paladar.
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