Por que restaurantes com espaço kids estão ganhando mais clientes e fidelizando famílias
Nos bares e restaurantes, a experiência do cliente vai muito além do cardápio. Para muitas famílias, escolher onde comer envolve considerar segurança, conforto e entretenimento para as crianças. Por isso, o espaço kids se consolidou como um diferencial competitivo, especialmente entre os estabelecimentos voltados ao atendimento presencial, onde a permanência do cliente faz toda a diferença.
Uma pesquisa da Abrasel em parceria com a Nogueira Brinquedos, realizada em 2023, confirma essa tendência. Entre 1.697 empresários entrevistados, pouco mais de um quarto afirmaram possuir espaço kids. De acordo com o levantamento, o serviço é mais comum em negócios com salão e atendimento de garçons, como churrascarias, pizzarias e restaurantes à la carte. A análise também apontou que as churrascarias lideram esse movimento: 50% delas contam com espaço kids.
Em seguida aparecem os restaurantes à la carte (36%), pizzarias e casas de massas (34%) e bares e restaurantes (33%). Regionalmente, o Centro-Oeste se destaca com maior concentração desses ambientes, enquanto o Sudeste apresenta o menor índice, reflexo do tipo de serviço e das dinâmicas culturais de cada região.
Para os empreendedores, o espaço kids representa algo simples de entender na prática: famílias com crianças pequenas se sentem mais seguras quando seus filhos têm onde brincar. O resultado são refeições mais tranquilas, maior permanência no local e uma experiência completa.
Além disso, estabelecer conexão com o público infantil cria memória afetiva, o que fortalece o vínculo com a marca. O espaço kids não apenas melhora o fluxo do salão, evitando que as crianças circulem entre as mesas, mas transforma a ida ao restaurante em um momento de lazer para toda a família. Por isso, muitos negócios passaram a encarar o investimento como estratégico, mesmo quando não há retorno financeiro imediato.
Um dos exemplos mais tradicionais é o da Churrascaria e Galeteria Komka, em Porto Alegre. O empresário Edésio Komka criou o espaço kids em 2001, logo após o nascimento da filha. O restaurante possuía um pátio onde as crianças brincavam, e a demanda familiar crescia a cada ano.
Com o tempo, o local foi reformado e transformado em área interna, equipada com brinquedos e máquinas de diversão. Hoje, a Komka conta com uma recreacionista responsável por organizar atividades. Segundo Edésio, as crianças chegam e imediatamente se encantam com o ambiente, enquanto os pais conseguem aproveitar o almoço ou o jantar com tranquilidade.
Nos fins de semana, a presença de famílias é ainda maior e ele percebe que o espaço kids contribui diretamente para o aumento da permanência e fidelização. Muitos clientes se tornaram assíduos por causa dessa estrutura. Edésio ressalta que os primeiros a valorizar essa experiência são os pais de primeira viagem, que ainda estão descobrindo novos hábitos fora de casa. Para ele, o retorno não está apenas no faturamento diário, mas na relação de confiança. “Os pais sabem que podem comer tranquilos enquanto os filhos se divertem com segurança, e isso explica por que tantas famílias retornam.”
O Dom Vergílio, em Palmas (TO), também investiu no espaço kids pensando em conforto e acolhimento. A empresária Juliane Maronezi explica que a ideia não surgiu de um pedido dos clientes, mas de uma percepção: famílias queriam permanecer mais tempo, porém se preocupavam com as crianças. No restaurante, o uso da área infantil não tem custo adicional.
Há uma cuidadora fixa e uma parceria com uma escola, que fornece materiais de desenho e papelaria. Juliane reconhece que o espaço kids não traz retorno financeiro direto, mas afirma que ele fortalece a imagem do restaurante. “O Dom Vergílio se destaca por causa disso. Não traz lucro financeiro, mas traz fidelidade. As famílias voltam, indicam e se sentem bem aqui.” O que ela observa na operação diária também aparece na pesquisa nacional: entre os empresários que ainda não implantaram espaço kids, 63% afirmam já ter considerado fazê-lo.
As principais barreiras são estrutura física e capacidade financeira. Ainda assim, quem investe percebe retorno em satisfação, permanência e reputação.
O crescimento do espaço kids no setor de alimentação fora do lar acompanha uma mudança de comportamento. Restaurantes deixaram de ser apenas lugares para comer e se tornaram ambientes de convivência, vínculo e memória afetiva. A experiência e o bem-estar ganharam o mesmo peso da gastronomia.
O que antes parecia um diferencial de grandes casas agora está presente em negócios de diferentes tamanhos. Mesmo quando não é lucrativo de forma direta, o espaço kids reforça a marca. Em um mercado competitivo, oferecer conforto e praticidade pode ser o que define a escolha de um cliente. Em Porto Alegre, Edésio destaca que o espaço infantil já faz parte da identidade da Komka. “As crianças gostam tanto que muitas vezes choram quando precisam ir embora. Isso mostra que a experiência funcionou para elas e para os pais.” Em Palmas, Juliane compartilha a mesma visão: “Vale a pena investir em conforto.
O retorno vem de outra forma, na satisfação das famílias e na lembrança que elas levam do restaurante.” A pesquisa nacional e as histórias desses empreendedores mostram que o espaço kids deixou de ser apenas um atrativo. Ele se tornou símbolo de hospitalidade e cuidado. Um investimento discreto, mas capaz de transformar uma refeição em um momento mais leve, seguro e humano para quem está ali para viver um bom encontro — e não apenas para comer.
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