Minha vida é navegar: Por Carina Joana
Primeiramente ontem estava ancorada num lugar urbano de Angra, aguardando uma encomenda. Sol e água do mar fresca, barco com tanques de água doce cheios, foi dia de lavar roupa e curtir o prazer de encher os baldes, e sobretudo sentir o cheiro do sabão e, à mão, cuidar de cada peça de roupa. Lavar, torcer, enxaguar, torcer, esticar ao sol, recolher ainda úmidas para proteger de uma chuva ligeira de verão no fim da tarde.
Desta forma, encomenda recebida ao pôr do sol. Hoje, logo após a manhã, subimos a âncora e estamos aqui, velejando num ritmo lento. Rumo? Ilha Grande. Céu azul, calor, avançamos com velas frouxas aproveitando o ritmo da maré enquanto aguardamos o vento chegar.
Dentro da cabine, escrevo e me distraio olhando para as roupas que ainda estão secando, esperando nossa próxima ancoragem para novamente serem estendidas ao sol.
Assim, lembro de uma entrevista de emprego que participei logo que concluí a faculdade. Depois de apresentar meu portfólio com projetos que desenvolvi durante o curso, olhei para quem me entrevistava e nunca vou esquecer do que vi. Ele estava com uma expressão arregalada, e exclamou sorrindo: “você é muito maluquinha!”
Porém , logo após fui contratada e lembro com carinho de quando encontrei novos planos e chorei de saudade antecipada daquela agência.
A vida é sobretudo maravilhosa! Adoro observar a diversidade de desejos e sinto mais fascínio quando percebo oposições entre eles, do que tenho dificuldade para entender alguns que não fazem o menor sentido pra mim. Será que tenho que entender todos os desejos que movem o mundo?
Não, definitivamente não, às vezes, a única opção é ficar bem com o diferente e seguir meus próprios sonhos que, por sua vez, serão incompreendidos por muitos outros.
Penso que essa é uma forma que o mundo, como sociedade, tem de se desenvolver e que nos coloca para dançar com as várias possibilidades de ser.
Me sinto cada vez mais ligada ao essencial. Viver a bordo é coisa incomum, parece distante da vida de quem está fluindo em terra e é também um lugar onde cuidar de si ganha novas proporções.
Eu, que me percebo num estilo de vida tão particular em várias camadas, tenho aprendido que acompanhar a meteorologia é tão importante quanto lavar e organizar a louça, que mergulhar no mar ou remar até a praia são prazeres que compartilho com o momento de lavar a roupa, que velejar exige que cuidemos do barco que também é casa.
Essa consciência, de repente, me aproxima da vida simples e cotidiana de qualquer lugar, de qualquer época, me percebo desejando me afinar com o tempo que imagino ser o das minhas bisavós. Casa é essencial, penso no significado de “ser dona de casa”. Me sinto uma dona de casa? É isso que sou! Mas, o que significa “ser dona de casa” nessa sociedade?
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Muito bom texto?! Objetivo e belos reflexos, parabéns Carina