Sorria, você está sendo enganado. Por Lucas Machado
Todos os dias, um sonhador e um malandro acordam cedo. Quando se encontram, nasce uma promessa — às vezes disfarçada de milagre, às vezes de técnicas de persuasão. Isso acontece mais vezes do que imaginamos, com mais gente do que se confessa. As redes sociais, os anúncios pagos, os vídeos virais e até mesmo os cursos online criam um teatro onde o enredo é sempre o mesmo: se você quiser muito, vai conseguir. Só precisa clicar, pagar e acreditar.
Desde técnicas para emagrecer dormindo em pé, até métodos de como ganhar dinheiro enquanto toma banho de lua, o cardápio é vasto. Basta rolar o feed por alguns minutos. Em segundos, surgem soluções que prometem o que ninguém mais conseguiu entregar. Promessas de juventude eterna, fórmulas para fazer milhões em um mês e estratégias secretas de produtividade. Tudo com depoimentos, números e gráficos. E você? Você não quer ficar para trás. Então, compra, compartilha e entra na dança.
Mas afinal o que nos torna tão vulneráveis? Parte da resposta está dentro da nossa cabeça. Para economizar energia, o cérebro desenvolveu atalhos de pensamento. Os famosos gatilhos mentais. Eles são úteis, sim. Mas também perigosos. Eles nos levam a confiar em quem parece saber do que fala. Além disso, o viés de confirmação nos empurra para tudo aquilo que reforça nossas crenças. Ignoramos o que nos contradiz, aceitamos o que nos conforta. Por isso, é tão fácil cair — e tão difícil admitir que caímos.
Existe um charme em ouvir palavras bonitas, principalmente quando não entendemos direito. O uso de termos como “disruptivo”, “exponencial”, “neurobranding” e “transformação digital” serve mais para impressionar do que informar. O discurso vira performance. O conteúdo, um ornamento. E quanto mais enfeitado, mais convincente. A manipulação se esconde atrás de jargões. Quem assiste se sente pequeno. E por não querer parecer ignorante, aplaude. E assim, o jogo segue.
Lembra do Golpista do Tinder? E do falso herdeiro da Gol? O que eles têm em comum é simples: sabiam o que as pessoas queriam ouvir. E souberam entregar, com elegância. Usaram fotos bonitas, discursos ensaiados, frases calculadas. Mas não criaram valor algum. Apenas colheram o que semearam: confusão, prejuízo, vergonha e cadeia. Vivemos a era da promessa. E quanto mais promessas surgem, menos tempo temos para refletir sobre o que realmente precisamos.
Antes, o conhecimento vinha com esforço. Agora, ele vem em pacotes editados, com voz de locutor e promessas em letras maiúsculas. Você não precisa estudar por anos, diz o anúncio. Basta comprar meu curso e mudar sua vida. O conhecimento, que antes era processo, virou um produto com embalagem chamativa. Mas, ao abrir, o conteúdo é raso. E o impacto, temporário. Como mostra esta reflexão no Yoo Mag sobre (riqueza da informação), é necessário desenvolver senso crítico para escapar dessas armadilhas.
Vivemos no modo turbo. Queremos tudo agora. Entregar rápido, crescer rápido, transformar rápido. Essa pressa abre espaço para os atalhos. E onde há pressa, há perigo. Porque o que parece simples demais geralmente não é real. E o que promete muito com pouco esforço quase sempre esconde uma pegadinha. Por isso, desconfiar é uma forma de sabedoria. Refletir antes de decidir é um ato de coragem.
É cada vez mais comum ver pessoas ditando tendências sem qualquer preparo técnico. Influenciadores se transformam em especialistas da noite para o dia. Um dia falam sobre skincare, no outro sobre investimentos. E assim, muita gente consome o que não entende, compra o que não precisa e imita o que não combina com sua realidade. Nesse ritmo, a autenticidade se perde. Como falamos sobre algumas dicas de livros no Yoo Mag (autoestima), o impacto psicológico disso pode ser profundo e silencioso.
Quantas vezes você assistiu a uma palestra que prometia revelar “os segredos do sucesso” e saiu com frases feitas e slides coloridos? As apresentações de empresas e influenciadores se tornaram grandes espetáculos de ilusão. Muita pose, pouca prática. O que importa não é o que é feito, mas como é contado. E enquanto o público se encanta com a performance, a verdade escapa pela lateral do palco. O golpe está em curso — só que dessa vez, com perfumaria.
Abraham Lincoln já dizia: “Você pode enganar algumas pessoas por muito tempo ou muitas por pouco tempo, mas não todas para sempre.” Ainda assim, os enganadores continuam. Porque sabem que sempre haverá alguém desavisado entrando na internet pela primeira vez. Sempre haverá alguém mais ansioso, mais fragilizado, mais disposto a tentar o próximo milagre. E quando a verdade aparece, o golpista já foi embora. Deixou um curso vazio, uma dívida no cartão, e um silêncio desconfortável.
Duvidar não é ser negativo. É ser prudente e usar o tempo a seu favor. É dizer “ainda não sei” antes de dizer “eu acredito”. Em tempos de hype, a dúvida é um escudo. Quando todos dizem que algo é incrível, talvez valha a pena olhar mais uma vez. Talvez valha a pena perguntar quem lucra com isso. A dúvida é uma forma de cuidado com a própria mente. E nesse mundo onde todo mundo quer ser autoridade, quem duvida é rei.
Mas Sorria, você continua sendo enganado. Mas ainda dá tempo de acordar. Ainda dá tempo de pensar, de escolher, de desconectar. Nem tudo que brilha é milagre e todo curso muda vidas. Nem toda frase de efeito representa sabedoria. A vida não precisa de promessas prontas. Precisa de propósito, de presença, de paciência. E esses três “Ps” não estão à venda.
Existe um ponto na vida em que o viajante percebe: o verdadeiro ouro não está no atalho, mas no caminho. Não está no que reluz, mas no que resiste. Sorria, você está sendo enganado, mas talvez essa dor seja o chamado. O início de uma nova rota. Quem descobre o engano, descobre também a chance de fazer diferente. Porque há sabedoria no tropeço e há reencontro no silêncio. A estrada é longa, sim. Mas quando o passo é verdadeiro, até o tropeço tem direção.
O milagre não está na pílula, nem no curso, nem no guru que fala rápido e gesticula demais. O milagre está em perceber. Em escolher. Em se libertar da pressa e escutar o que a alma tem a dizer. Porque, no fundo, você já sabe o caminho. E se alguém precisar vendê-lo a você, talvez não seja o caminho certo. A vida é generosa com quem caminha com fé e com calma. O resto é barulho. E o barulho, como todo disfarce, não dura para sempre.
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