Primeiramente eu fico imaginando como é a ressentida vida de colunistas diários que não tem a liberdade de pauta que quando seguraram seus canudos de jornalistas imaginariam que teriam.
Talvez ressentida, seja uma palavra muito forte, mas enfim, entenderam né? #JornalistasTMJ.
Entretanto como não é o meu caso, é justamente sobre isso, aplicado a minha profissão, que quero relatar.
Fui convidado para uma conversa, semana passada, sobre Design Thinking, pra quem ainda não conhece a expressão, ela tem ganhado notoriedade no mundo do empreendedorismo – sendo que a mim, o significado poderia se confundir com o próprio conceito.
Em resumo é uma abordagem (veja bem, não método, não falamos de fórmulas prontas) que visa encontrar resoluções de problemas identificados no mercado.
E isso de forma criativa. Então, pra mim é na verdade o que faz alguém empreender.
Mas vamos lá. Sempre a minha pergunta padrão ao contratante dos meus serviços é: que competências você espera que as pessoas adquiram ou se “estimulem a” após o trabalho? A resposta foi quase acadêmica. A facada foi quase no peito.
No entanto eu fiz o job, conforme o brifado. Passei pelo surgimento do conceito, pela história do responsável pela disseminação dele.
Apresentei as empresas de alta tecnologia que ancoradas nesse pensamento surgiram no mercado. Foi bom.
Mas a gente sai da favela, só que a favela não sai da gente, já dizia popularmente a grande pensadora, formada em Massachusetts, chamada VIDA.
O que gostaria de explanar horas sobre – e a contragosto não o fiz – é que esse conceito se embasa na inexistência de uma fórmula, não caminha na linearidade; e por não trabalhar processos estatísticos, o empírico é sua chave, ele trabalha com gosto, cheiro, carne humana e vida real.
E que para mim, esse método nasceu na favela. Que as etapas de imersão ou descoberta, análise e síntese ou interpretação, ideação, prototipação ou experimentação ocorrem todos os dias com os pré-MEIs das comunidades (empreendedores informais).
E há muito tempo. Antes de surgir na Califórnia ou no país que quiser imaginar.
Além disso, apenas nos últimos 10 dias eu poderia apresentar um estudo sobre a aplicação de design thinking em pelo menos 3 situações na favela do Papagaio, por exemplo.
Como o seu artesão, que produz sabão com óleo vegetal e que pretende abrir uma loja de produtos de limpeza e descentralizar os pontos de coleta de óleo na comunidade.
Ou a dona Dj-jornalista que projeta filmes na sua laje, que sem perceber é um instituto cultural ambulante.
Ou a dona filhos pra caralho, que com já com 18 adotados está saindo do mercado das quentinhas para o seu restaurante (nomes reais das pessoas não utilizados pois o objeto aqui não é explorar a sua história, e sim enaltecer a sua visão).
Pra encerrar, deixo dois registros. Um: ao se depararem com esse conceito por aí -por favor -, não o vinculem as empresas de grande porte ou alta tecnologia, lembrem-se dos casos que mencionei. Não iniciemos já segregadores.
E dois. Além da oportunidade de escrever com liberdade o meu pensamento aqui, eu costumo a convidar todos os meus clientes.
Enfim ao final quando posso, convido a me acompanharem para ir a um bar ou restaurante, e lá eu falo tudo que penso. Porque de bobo e ressentido eu não tenho nada. Viva a favela.
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