Life Style

Carina Joana. De onde eu venho

Carina Joana. De onde eu venho

Nesta noite sonhei com vento e animais. O vento cantava violento e trazia uma chuva densa e cortante, os animais eram arremessados pelo vento ou voavam apressados, todos se abrigando na varanda da casa onde cresci. Tinha sol quente que iluminava as folhas das plantas e trazia calma, pensei em coletividade e cuidado, senti frio e calor. Tinha um beija-flor-calopsita neste sonho. Onde estava o arco-íris?

Baía de Guanabara na cidade do Rio de Janeiro

É a primeira vez que passo por aqui, sabe de onde venho? Nasci numa ilha cercada pelas águas da Baía de Guanabara na cidade do Rio de Janeiro. Saí desta ilha para morar num veleiro, transitar por outras ilhas, me ligar a novos pontos do continente, vim navegar oceanos interiores. Fiquei conhecida como a “menina que mora sozinha num barco” e passei a escutar a frase “Este é o meu sonho!”.

Troquei a terra pelo mar, a cama seca pelo triângulo de proa, a organização do calendário pelo fluxo das previsões do tempo, conheci novas cores para minha pele, texturas para os fios de cabelo, encontrei o cheiro do meu corpo.

Sonho de uns, realidade brilhante, nua e dura de um sonho em mim.

O que significa sonhar? Sonho é matéria prima? É remédio ou sintoma? O que ele diz de mim ou de você?

Sobre os sonhos que sonho dormindo faço anotações, flexiono suas mensagens simbólicas, guardo alguns por anos e esqueço muitos outros antes mesmo de acordar. Um meio de comunicação comigo mesma, com meu momento de vida.

Mas, aqui, quero mesmo é falar sobre os sonhos que se sonha acordado. Sobre esse seu sonho de morar a bordo de um veleiro, de fazer uma viagem até a Polinésia, à Lua ou ao sertão da Bahia, de formar a sua família, ter filhos e netos ou, quem sabe, de descobrir algo que ainda é novo para a humanidade. Me carrego de uma certa arrogância que vibra na vontade de falar em voz alta e clara: Este não é o seu sonho.

Na minha percepção, sonho é campo livre, com formas que não sabemos nomear, seres como o tal beija-flor-calopsita, pessoas que já morreram, tempos que já passaram ou que ainda estão por vir, em sonhos podemos voar, respirar debaixo d’água, nos transportar para o centro da Terra ou ao infinito espacial.

Sonhos vão além, é o que te faz desejar a tal viagem, é o lado oculto e ao mesmo tempo brilhante do desejo, são irrealizáveis enquanto se realizam em cada uma de nossas ações, fluem com pequenas palavras, são agentes de uma espécie de encontro entre o que essencialmente somos e o que conseguimos ser na superfície.

Faz sentido para você pensar que sonhos antecedem desejos que impulsionam nossas ações?

Chego aqui me sentindo alimentada de sonhos que desconheço, com desejo de descobrir algo sobre mim que brotará entre as palavras que escreverei para você. Quero compartilhar minhas certezas de pernas curtas e perguntas que nunca terão respostas, assim podemos ir aos poucos realizando o que somos.

Carina Joana Instagram: https://www.instagram.com/_carinajoana/

Carina Joana. De onde eu venho

/* */
Carina Joana

Apaixonada pelo fluxo da natureza, pela arte do autoconhecimento e por velejar. Carina Joana é formada em Desenho Industrial, pós graduada e terapeuta corporal. Morando a bordo do seu barco, desenvolveu seu lado náutico junto com suas investigações no campo terapêutico. Hoje seu foco está em incentivar outras mulheres a se encontrarem junto à prática do estar a bordo e velejar.

Posts recentes

Por que o país que começa tudo e termina pouco precisa reaprender a concluir

Por que o país que começa tudo e termina pouco precisa reaprender a concluir A…

5 dias ago

O silêncio como luxo: espaços sem barulho viram tendência de bem-estar

Vivemos cercados por notificações, ruídos e pressas. No fundo, há algo de revolucionário em simplesmente…

1 semana ago

Oito alérgenos mais comuns exigem atenção de bares e restaurantes

Com informação, preparo e empatia, o setor de alimentação pode oferecer mais segurança e confiança…

2 semanas ago

Prêmio Cumbucca de Gastronomia 2025

Prêmio Cumbucca de Gastronomia 2025 Uma celebração da identidade gastronômica mineira O Prêmio Cumbucca de…

2 semanas ago

Solidão urbana: como podemos estar cercados de pessoas e ainda nos sentir sozinhos

Vivemos em cidades pulsantes, cheias de vozes, sirenes e agendas cheias. Ainda assim, a solidão…

2 semanas ago

Menos mãos sujas com tinta e mais pés cheios de lama

Por que a inovação precisa voltar do quadro para a prática Vivemos uma era em…

2 semanas ago

Thank you for trying AMP!

We have no ad to show to you!