El Dorado do Parima e a Crise Yanomami
A fim de que a sociedade possa avaliar na exata medida a gravidade da crise causada pelos garimpeiros clandestinos na TI Ianomâmi , faz-se necessário que tal crise seja devidamente contextualizada , de modo a tornar-se de conhecimento geral o fato de que o ouro dessa região é localizado numa área de altíssimo potencial arqueológico e valor cultural chamada de província mineral do El Dorado do Parima.
Um dos principais propósitos desse texto é demonstrar que, se inserida nesse contexto, tal crise mostra-se não somente de caráter ecológico e humanitário ,mas também de âmbito cultural e arqueológico, em razão de estar relacionada a uma das tradições do El Dorado. Contudo, para que seja entendida tal contextualização, é necessário que, antes de tudo, expliquemos ao leitor o que é o El Dorado do Parima.
Segundo a tradição indígena pertinente, a palavra Parima ou Parime , que significa “água grande” no dialeto Karib, representa um gigantesco lago de dimensões comparáveis ao Mar Cáspio que existia na região correspondente as atuais Roraima e Guiana, o qual constituía o marco geográfico da região mais rica em ouro conhecida e explorada pelos Incas na América do Sul durante a época pré-cabralino. O El Dorado do Parima constitui uma das três tradições indígenas associadas ao mundialmente célebre termo El Dorado, a qual foi vastamente documentada pelas referências históricas coloniais inglesas e espanholas do séc. XVI não dizendo respeito exclusivamente a uma ou mais cidades perdidas ,mas também a uma província mineral utilizada pelos Incas localizada no norte amazônico.
A partir do séc. XIX ,quando os conquistadores exploraram pormenorizadamente as atuais Roraima e Guiana, o El Dorado do Parima foi considerado uma mera lenda ,sendo que eles não localizaram um gigantesco lago nessa região ,muito menos a imensa quantidade de ouro a que se referiam as tradições indígenas pertinentes.
Não obstante, a partir de 1950, começou a ser (re)descoberta uma imensa quantidade de ouro na referida localidade, o que culminou com pesquisas mais recentes, as quais demonstraram ser esta região a de maior potencial aurífero do mundo. E isso, por si só, indica que a referida tradição não era uma mera lenda. No ano de 1987, Roland Stevenson(RIP) e equipe descobriram que a imensa savana amazônica alagável de Roraima e da Guiana chamada de “lavrado” ou Rupununi Savannah constitui o leito do extinto lago Parima, tendo esse deixado de existir como lago perene devido a grandes terremotos que comprovadamente ocorreram no passado recente na Amazônia.
Essa descoberta já recebeu pareceres favoráveis do CPRM e do IPHAN, e isso demonstra definitivamente que a supracitada tradição, pelo menos em parte, não é uma mera lenda.
Outras evidências contribuem para demonstrar ser fidedigna tal tradição, como a localização do sítio arqueológico da Pedra do Sol em Roraima ,o qual está sendo reconhecida pelo IPHAN como o primeiro sítio Inca descoberto em território brasileiro. Infelizmente, uma grande parte dos garimpeiros clandestinos da TIs Ianomâmi e Raposa Serra do Sol sabem, pelo menos por alto, da relação da relação dessa região com o El Dorado, o que atua como um chamariz para esses criminosos ,demonstrando que a crise vivida pelos Ianomâmi não pode ser vista fora do contexto aqui apresentado.
Essas descobertas conferem à região em que se situa a TI Ianomâmi um valor cultural extraordinário ,uma vez que a coloca entre as de maior potencial arqueológico do mundo, além de associá-la definitivamente ao El Dorado.Diante das descobertas citadas acima, mostra- se muito possível que as tradições indígenas pertinentes estejam corretas também em relação a existência de cidades perdidas e artefatos arqueológicos de ouro em tal região ,os quais estariam seriamente ameaçados pela nova onda garimpeira que está se sucedendo nessa TI.
É preciso salientar que já foram encontrados artefatos líticos Incas em zonas de garimpo em tal região, o que indica que o norte do Amazonas e sobretudo Roraima passam de fato por uma situação de emergência arqueológica e cultural. Sendo assim, a TI Ianomâmi vive não somente uma crise humanitária e ecológica sem precedentes, mas também uma situação de emergência cultural ,sendo que os vestígios arqueológicos do El Dorado estão seriamente ameaçados pela expansão garimpeira. Diante desse contexto, a crise vivida na TI Ianomâmi em decorrência da expansão garimpeira, mostra-se ainda mais grave do que se tem noticiado pela mídia.
Para debelar essa alarmante situação de risco arqueológico, a equipe Roland Stevenson(RIP) ,atualmente liderada pelo antropólogo norte-americano especialista em El Dorado Gregory Deyermenjian ,está enviando para o Ministério de Ciência e Tecnologia um projeto que visa escanear a laser parte de Roraima e do norte do Amazonas, por meio de uma tecnologia de detecção remota chamada LIDAR( light detection and ranging),a qual possibilita localizar sob a copa das árvores ruínas, áreas de garimpo Incas e demais sítios
arqueológicos.
Esse projeto visa também resgatar os achados arqueológicos dos sítios mais importantes a serem detectados por meio da tecnologia mencionada acima. Se um projeto como esse não for realizado de forma pontual, existe grande possibilidade de que seja dilapidado de nosso país um patrimônio arqueológico de valor cultural e financeiro incalculável.
Augusto Morgan
Membro da equipe dos descobridores do El Dorado do Parima Roland Stevenson/ Dr. Gregory
Deyermenjian/Luiz Galdino(RIP) /Dr.Emmanuel Lézy,/ Dr. Gert.Woeltje
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