A grama do vizinho. Por Lucas Machado
Você possui uma casa, uma família, coleciona bons amigos com quem se diverte e toma alguns chopes no fim do expediente e, por falar nisso você tem também um trabalho e consequentemente algum dinheiro.
O que te permite algumas contas pagas, outras dívidas negociadas, um cinema e um poke havaiano no fim de semana além de algumas roupas da estação.
E sem contar que você é saudável e buena onda. Até coleciona alguns admiradores e recebe elogios na rua, uauu.
Status Social
Ora, você tem tudo que precisa. Não tem? Não. Independente de nossas posses, aparência, benefícios e status social, nós nunca possuímos tudo que queremos, ou não estamos sempre satisfeitos. Isso eu, você, nós, vós e eles.
E o desejo só sobrevive NA FALTA. E nós, pobres de nós, somos seres de falta. O que falta então? A casa? Falta comida?
Não. Falta a geleia importada, o petit gateu, o caviar. Água? Não, falta Champanhe. Você tem uma família, mas falta aqueles que já se foram e os que ainda nem chegaram.
Falta trabalho? Falta o trabalho ideal, que assegure além de um salário no final do mês, o prazer de estar ali.
Sonhos de infância
Não lhe falta saúde, falta-lhe o corpo minuciosamente esculpido. Você pode até ser bem-apessoado, mas lhe falta.
Você tem um namorado (a), uma esposa. Mas o que lhe falta é a paixão dos primeiros dias, os sobressaltos, as surpresas diárias, os jantares à luz de vela, o friozinho na barriga.
Falta-lhe Piazzolla enchendo de glamour e tango suas colourosas noches de verano, falta-lhe estrelas no céu da boca, faltam-lhe uma conta na suíça. Faltam os sonhos da infância realizados um a um.
Afinal, o que falta então? Contra a futilidade, utilidade, raridade e idade. Falta ser mais humano. Falta mais a falta que faz um ser humano. Ahh esses Zumanos.
Mas real. O que isso tem a ver com a grama do vizinho?
Eu sempre ouvi dizer essa expressão mais nunca me foi tão clara desta vez. A vida do seu vizinho e o tanto que ela influencia a todas as coisas as quais vivemos e fazemos ao longo de nossas vidas.
A grama do vizinho é sempre mais verde
“A grama do vizinho é sempre mais verde” é o que diz o ditado. Talvez seja mesmo. Talvez você olhe para minha grama e ache ela mais verde que a sua.
Eu espero que não seja esse o seu caso, espero que você tenha em seu quintal uma grama verdíssima.
Acho que muita gente hoje passa concreto por cima da grama que é para ter mais espaço para o carro ou para o ego. Gente que não vai sentir falta de rolar na grama, porque nunca rolou mesmo, nem de fazer piquenique, porque nunca fez.
Gente que não vai sentir falta do cheiro de chuva porque já não sentia, gente que não reparava a própria grama, nem a do vizinho porque não tem o costume de reparar.
E vale lembrar que quem vê cara não vê coração, quem vê o verde e o colorido do jardim pronto nem sempre viu o semear, regar, cuidar ou o crescer. Pode ser que a minha grama seja mais verde mesmo.
Ela é frequentemente irrigada com muita criatividade, música e cores muitas cores. Ela não é confinada a sombra de muro, mas recebe sol através das grades da vida vivida.
Mas será que não falta grama? Ou falta, sobretudo vergonha de não ter grama? Minha grama é mais verde porque a gente ouve hip-hop para ela crescer.
Enfim, o que está faltando na sua vida? Será que é realmente uma falta. Bom seria legal refletir sobre isso. Vamos tomar conta do próprio quintal e não esquecer de convidar os vizinhos para o churrasco de domingo, mas lembre-se – em tempos de falta, concreto e cinza, quem tem grama, mesmo sem muito verde, tem TUDO. Vai.. Hasta !!.
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A grama do vizinho. Por Lucas Machado
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