Como navegar no caos quando o tempo virou ruído. Por Lucas Machado
A gente aprendeu a olhar para o tempo como quem observa um trilho: uma linha contínua, que vai do ponto A ao ponto B, com início, meio e fim. Mas e se, na verdade, o tempo fosse um labirinto ? Um emaranhado de caminhos, voltas, espirais e becos que se abrem e se fecham conforme as escolhas que fazemos?
Essa não é uma metáfora maravilhosa. É uma provocação real.
Porque o jeito como percebemos o tempo influencia tudo: nossas decisões mais simples, nossas angústias mais profundas, nossos planos mais ousados. Quem lidera uma empresa, uma equipe ou a própria vida sabe — ou deveria saber — que o tempo não é uma planilha. Ele é um organismo vivo, com veias e artérias, imprevisível, às vezes cruel. Não é uma linha. É um quebra-cabeça em movimento.
E se o presente engoliu o passado e o futuro?
Vivemos uma era onde tudo acontece ao mesmo tempo — e rápido demais. O passado parece cada vez mais distante, o futuro cada vez mais incerto, e o presente, um monstro faminto que consome tudo. Um regime de urgência que o historiador François Hartog chamou de “presentismo”: essa mania de viver no agora, só no agora, como se o depois não existisse e o antes não importasse.
Mas será que é possível viver com profundidade nesse tipo de presente? Como pensar em transformação real se o tempo que nos atravessa está em frangalhos? Talvez o problema seja justamente tentar controlar o tempo. Ou pior: reduzi-lo a um modelo de produtividade.
A visão maximalista: sair da lógica linear
Existe uma outra forma de encarar o tempo — e ela não é simplista. É maximalista. Ela não se apega a fórmulas prontas nem tenta colocar o mundo em caixas. Ao contrário: ela abraça a complexidade. Nessa visão, o passado, o presente e o futuro não são gavetas separadas, mas forças entrelaçadas, que se puxam, se tensionam, se contradizem. Um passado que não é peso morto, mas repertório. Um presente que não é urgência, mas palco. Um futuro que não é destino, mas construção.
Jacques Rancière diria que o tempo é feito de rupturas — e não de continuidade. E talvez seja essa ruptura que nos permite reconfigurar o mundo. O tempo, nesse sentido, é mais dança do que linha reta. Mais improviso do que roteiro. E mais pergunta do que resposta.
O passado: lugar de escuta (não de saudade)
A gente olha para o passado como se fosse um álbum de memórias. Mas ele é mais que isso. Ele é um espelho — e às vezes um alerta. É ali que moram os acertos que queremos repetir, mas também os erros que não podemos ignorar. O passado é análise. É contexto. E, mais do que tudo, é a fonte de onde brotam os novos paradigmas.
Ignorá-lo é como tentar construir uma casa sem conhecer o terreno. É possível? Talvez. Mas arriscado. Muito.
O presente: campo de batalha e de possibilidades
O agora virou sinônimo de correria. Mas o presente é também onde tudo pode mudar. É a única janela que temos para fazer alguma coisa. Vivemos em um tempo em que a única certeza é a instabilidade. E nisso, paradoxalmente, existe uma oportunidade.
A inteligência artificial, por exemplo, não está apenas mudando empregos e mercados. Ela está nos obrigando a redefinir o que significa ser humano. Se a IA faz tudo mais rápido, mais preciso, mais eficiente… o que sobra para a gente? Sobra aquilo que nenhuma máquina tem: propósito, emoção, ética, empatia, intuição. Ser humano virou diferencial competitivo.
O futuro: lugar de criação (não de previsão)
Prever o futuro é um jogo de azar. Construí-lo, talvez seja uma arte. O futuro não é uma sequência lógica de fatos. Ele é moldado por erros, revisões e decisões que fazemos no agora. É um campo de forças. É onde o desejo encontra o limite. Onde a imaginação disputa espaço com o medo.
A boa notícia? Mesmo quando parece distante, o futuro pode ser puxado para perto. A má? Ele nunca vem do jeito que a gente planejou. Porque o tempo é um bicho indomável. E o futuro, a sua parte mais misteriosa.
O tempo como labirinto (e o Minotauro que mora nele)
Se o tempo é mesmo um labirinto, então não existe um caminho certo. Só múltiplos caminhos possíveis. E talvez nem seja sobre sair do labirinto, mas aprender a habitá-lo.
O Minotauro de hoje não é uma criatura mitológica. É a urgência a ansiedade. É essa cobrança incessante para acertar o tempo todo, entregar sempre mais e nunca parar. Mas será que a saída está em matar esse monstro? Ou em fazer as pazes com ele?
Talvez seja hora de fazer como Dionísio — e dançar com o caos.
O maximalismo como dança com o invisível
Não há porque fugir do labirinto. Quem tenta escapar, se perde. A verdadeira sabedoria está em percorrer cada curva com os olhos abertos e o coração leve. O maximalismo não busca atalhos — ele convida à presença. Em vez de temer os caminhos tortuosos, ele os transforma em coreografia. Cada passo é uma escolha. Cada escolha, uma chance de reencontro consigo mesmo.
O tempo, nesse olhar, não é inimigo nem tirano. Ele é um mestre silencioso, que ensina sem palavras. Passado, presente e futuro não estão em disputa. Estão de mãos dadas, dançando juntos como velhos conhecidos que se reencontram sob a luz do amanhecer.
Talvez a pergunta não seja “como controlar o tempo”, mas sim: “estou dançando ou apenas correndo?”. O guerreiro da luz sabe que há momentos de espera, outros de impulso, e muitos de entrega. Ele aprende que o ritmo da vida não está no relógio, mas na escuta atenta da alma.
Não se trata de saber tudo antes da hora. Trata-se de confiar no caminho — mesmo sem ver a linha de chegada. Porque o tempo não precisa ser uma prisão. Ele pode ser um templo.
E se a gente não pode dominá-lo, que ao menos aprenda a dançar com ele. Com graça, com coragem, e amor. Hasta !!
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.
Fantástico! Parabéns, Lucas Machado! Sou Maria Dulce “Machado”de Aguiar, mineira e residente em Goiânia desde 1953. Trabalho na educação há 56 anos, resistindo e feliz aos 74. Você definiu com precisão impressionante nossa caminhada por aqui e de que forma a humanidade poderia transformá-la em evolução. Um grande abraço de uma fã e agora seguidora.