Entrevista Kêta: Banda It’s Only Rolling Stones. @porlucasmachado

Entrevista Kêta: Banda It’s Only Rolling Stones

Entrevista Kêta: Banda It’s Only Rolling Stones

Lucas Machado entrevista o vocalista da Banda It’s Only – Kêta – It’s Only – Rock’n Roll na veia

Kêta Chutou o balde, gritou “Foda-se, eu não to nem aí” para quem quisesse ouvir, quebrou tudo, pôs um bocado de músicas e shows na roda, viveu um dois, três… Vários dias loucos, cantando Stones, músicas próprias e várias mulheres.

Henry Laviola Vagliano

Grande ídolo do rock’n’roll das Gerais, Henry Laviola Vagliano, o Kêta, é uma lenda viva. Sua história, nada convencional, marcou época, influenciou e modificou o cenário musical de Minas Gerais. Esta figura, que cresceu no antigo bairro Barroca, coleciona muitas composições, recortes de jornal e fotografias de um tempo que não volta mais…

Assessor parlamentar da Assembléia Legislativa de Minas Gerais há mais de 20 anos, filho de dona Conceição – uma mãe bastante contemporânea, que por incrível que pareça já está na terceira idade – pai do garoto Daniel que já carrega consigo o apelido de “Jack Daniels”, Kêta nos recebeu em sua casa… Chegou pedindo para trocar de roupa antes da entrevista.

Precursor do clã dos roqueiros de BH, sim, é ele mesmo, o primeiro a enveredar-se pelos caminhos do bom e velho rock’n’roll, inaugurando o que seria a grande mudança nos rumos da música mineira.

Vocalista do Serpente e do It’s Only Rolling Stones – difícil encontrar uma figura que melhor interprete Jagger – carrega consigo ideologias próprias, é um cara tranqüilo, porém rebelde. Tem uma qualidade na qual todos deveriam se espelhar:

Keta

“Possuo gene de quem quer fazer o que gosta sem prejudicar ninguém.” Assim Kêta leva sua vida, dividida entre o trabalho social e a arte, misturando ingredientes primordiais para o sucesso. Autor da frase “Se tens todo o mar para amar, por que amar só uma gota?”, reverencia a ideia de que é realmente louco, mas pelo rock’n’roll. É isso, vamos com tudo, mr. Kêta!

LM: Henry Laviola Vagliano. Putz, cara, que nome é esse

Keta: Pô irmão, é francês, meu pai era francês, por isso…

LM: Por que e quando surgiu o apelido Kêta?

k: Na verdade, são duas versões. A minha mãe queria ter uma filha mulher, ficava me chamando de Henriqueta. Já meu irmão tinha uma turma da pesada, eles viviam me ensinando palavrões e me ensinaram a falar bukêta…

LM: E como é essa história de que você ainda curte o mingauzinho e a sopinha da mamãe e que ela vive te bajulando?

K: Casei e me separei e não tem nada melhor do que a comidinha da mamãe, né? Acordar de manhã com mingauzinho…Até mesmo quando durmo fora, morro de saudades…

Qual é o segredo para se ter esse bom humor e fazer palhaçada com quase tudo?

O bom é inerente ao ser humano, nós não viemos aqui para sofrer, se você viver só reclamando, sentindo-se mal, só atrairá coisas ruins…Então, o que eu procuro nessa vida é não só tratar bem as pessoas como dar gargalhadas delas, porque dessa vida a gente não leva nada, apenas lembranças, temos de rir até dos azares da vida! That’sit…(Risos)

Você contou que desde criança, quando dividia o quarto com seu irmão, por influência dele, começou a curtir música. Quando você começou a cantar?

Com meus 12 anos eu ia acampar com a galera do bairro direto. As mães liberavam e tal…Foi justamente na época em que começou a trocar Raulzito e eu subi no palco e cantei “Rock das Aranha”.

Você canta no chuveiro?

Pra caralho, bato punheta também. (Muitos risos)

O que você ouvia naquela época?

Rock’n’roll não tocava em muitas rádios. Havia apenas três rádios para ouvir. A Cultura, a Rádio Mineira e a Atalaia, que era a mais baranga – mas ainda bem que não existia “Bundes e a bunda!” (Risos)

E o que é “bundes e a bunda”?

É o boom do sertanejo e o boom da música baiana.

Na época em que você começou a cantar, os músicos eram considerados marginais, vagabundos. Como era na sua casa? Seus pais eram contra?

Completamente contra. “Eu driblava muito eles e sempre dizia que estava indo à casa de uma amigo e, geralmente, usava o nome de um careta, claro”

Algum fato marcou a sua infância e/ou adolescência?

Quando eu era criança, a imprensa relatou a morte do primeiro vocalista dos Stones, o Brian Jones. Diziam que tinha sido por problemas com drogas, depois descobriram que tinha sido assassinato. Acho que isso acabou por me influenciar e gostar dos Stones.

Havia uma rivalidade muito grande entre turmas de bairros como Prado, Floresta, Savassi, dentre outros. Como era isso?

Primeiro não era turma, era máfia! A galera do meu bairro era tranqüila, a gente esperava as brigas começarem nas festinhas para ir atrás das meninas. (Risos)

Rolava muita droga?

Claro, mas era diferente! Queríamos ter experiências diferentes, uma coisa de autoconhecimento… Não éramos porra-louca, não achávamos lindo falar que usávamos droga e nem muito menos fazíamos propagandas “eu sou um drogado e tal”…

Você se lembra do cloridrato de ziprepol?

[Risos] como lembro! Era o famoso boi, mas isso faz muito tempo, as doideiras eram paz e amor.

Aos 22 anos de idade você montou o Serpente, com músicas autorais. Como foi que o Serpente nasceu?

Conheci o Dida, trabalhávamos juntos. Foi na época do primeiro campeonato de skate que rolou em BH, no meu bairro. Nós dois trabalhávamos no banco e resolvemos montar uma banda.

Você curte skate faz tempo?

Claro! Ando desde pequeno, fiquei até bem colocado em alguns campeonatos na categoria Slalon. Eu tinha até um sonho de consumo: um skate Gordon Smith.

Como foi gravar o primeiro disco de músicas autorais do Serpente?

Meu irmão gostava do nosso som e bancou nosso primeiro EP com quatro músicas. Colocamos na Rádio Terra, que era a única rádio de rock da época e ficamos durante muito tempo em primeiro lugar com a música “Poe na Roda”.

As bandas independentes passam por vários problemas, dentre eles grana, divulgação e distribuição. Como é que você vê isso?

Na verdade, os problemas são muitos. Deveríamos ter aqui em Minas um ACM. Apesar de eu não gostar dele, o que ele fez pela música da Bahia foi muito importante, abrindo concessão para as bandas baianas em horários de pico nas rádios… Quando você chega nas rádios, mal é recebido. Os caras não visualizam o talento e sim a grana imediata. Às vezes, eles até dão força, põem sua música 3h30 da madrugada. [Risos]

Você trabalha na Assembléia Legislativa há mais de 20 anos. Como você concilia os dois trabalhos?

Meu trabalho lá é burocrático, eu não me exponho como músico, é um trampo mais social. Você não pode envolver as duas coisas. Trabalho desde os 12 anos porque eu preciso.

E o que você acha do Lula?

[Risos] Nossa, fudeu tudo! O Lula é tão devagar que eu considero ele a luz de 20 volts no fim do túnel. [Risos]

Você se formou em administração. Onde estudou? Por que escolheu esse curso?

Na época, o curso estava em voga. Eu achava que tinha de estudar e fiz o curso na PUC Minas. Queria fazer jornalismo, mas na época, a maioria dos jornalistas era perseguido. Escolhi Administração por ser um curso mais abrangente, mas, pra falar a verdade, eu nunca administrei nada. [Risos]

O que você gosta de ler?

Tudo! De bula de remédio até literatura. Tenho muita influência dos Beatniks, um movimento no qual os autores escreviam sobre suas próprias experiências e, por isso, viviam intensamente para terem material para escrever. Eles escreviam de maneira contrária à que os acadêmicos escreviam na época.

Como foi feio o documentário “20 Anos na Estrada do Rock”? De quem foi a iniciava? Como foi esse lance de reviver imagens e sons e de relembrar o passado?

Foi e é uma loucura. A Flavinha conseguiu fazer esse documentário quase que sem grana, foi iniciativa dela, que, na cara e coragem, recuperou cenas e fotos com amigos e tal, juntos, demos uma garimpada.

Com o Serpente e o It’s Only…Você percorreu quase todas as casas noturnas da Capital, muitas delas já nem existem mais, como Cabaré Mineiro, Olímpia, Kripton, Dominus, etc. Qual delas mais marcou sua carreira artística?

Não só a minha, mas toda a história de BH, disparado, foi o Dominus. A primeira casa com três ambientes aglutinou todos os estilos em um lugar, era uma casa única. O Cabaré Mineiro era mais restrito ao Clube da Esquina do Rock.

De qual das suas composições você mais gosta?

Aí você me fudeu! Eu gosto de todas. Cada uma reflete um momento da minha vida, gosto de escrever o que eu vivo. E foda-se pra quem não gostar, é isso…

O Serpente é considerado um clássico. Samuel Rosa, do Skank, disse, inclusive, que as músicas do grupo tornaram-se verdadeiros hinos dos anos 80 em BH. Quais músicas melhor representam a cena da época?

Põe a Roda” e “Dia Louco”.

Depois de uma estrada de Serpente, surgiu o It’s Only Rolling Stones. Como foi isso?

Já tocávamos Stones em alguns shows, mas foi numa época muito particular que outros estilos de música entraram no cenário. Tocar músicas próprias não abria espaço para as bandas. Os Stones eram antenados para as coisas, enquanto o Beatles cantavam “Vamos das as mãos”, os Stones cantavam “Eu quero fazer amor com você”…[Risos]. Existe alguma pessoa de quem você não irá se esquecer e que tenha marcado esses 20 anos de carreira?
Existem várias, mas para mim, foi o falecido “Beto Capeta”. Foi ele quem nos disse: “Vamos tocar Rolling Stones?” A gente era super pobre e ele nos deu a maior força, e meu irmão Jorginho também.

E o show de Caraíva? Como foi sair de BH e tocar na praia, onde não havia eletricidade na época? Você disse que aquele foi o mais marcante dos shows, por quê?

Caralho quanto meses você ficou me estudando (Rs)!!! Isso tem mais de 15 anos. Nós começamos a tocar na praia sem propaganda nem nada e, de repente, pintou gente de todos os lugares da cidade. Foi uma comunhão total e durou um dia e meio de rock’n’roll. [Risos]

Como anda sua agenda de shows hoje, dá pra ganhar uma grana?

Bom, é um hobby remunerado, mas todos nós temos um outro trabalho.

Com que palavra você resumiria a história do Serpente?

It’s only rock’n’roll.

Agora, fala sério, você ficava na frente do espelho, treinando os trejeitos do Mick Jagger ou isto é talento nato mesmo? [Risos] Você chegou a conhecer o cara? Trocou ideia com ele?

Bom, acho que é talento nato mesmo. Não cheguei a conhecer o Jagger, mas no primeiro show deles no Brasil penetrei no Copacabana Palace e acendi o cigarro do Keith Richards e trocamos uma idéia rapidinho.

Como é essa história de vocês serem um bando e não uma banda?

Em uma banda grande, os músicos são extremamente estudiosos, batalham e estudam muito. Nós, além de fazermos isso, somos um bando, estamos sempre quebrando tudo até hoje, somos amigos de fé, somos fiéis à nossa ideia acima de tudo.

Você ainda quebra tudo? [Risos]

Quase tudo! [muitos risos]

Você se considera o protótipo de uma geração?

Considero-me parte de uma geração

Depoimentos:

“O Kêta é referência da nossa geração nos anos 80. Começou com o Serpente e depois veio o It’s’only. Ele tem um apelido que eu gosto muito: Vovô garoto”[Risos]

Guilherme, conservatório Bar


“kêta veio influenciou a gente, mito do rock mineiro. Figura que não muda nunca. Como ele mesmo diz: Mantenha seu copo de cerveja distante, os olhos dele tem fiação trocada” [Risos]

Bozô, vocalista do Overdose


“Kêta é o cara do Rock. Quando eu tinha uns 14 anos e sonhava em cantar, sempre pensava: um dia vou ser igual a esse cara. No mais, Kêta obrigado por você existir.”

Matheus Lopes,’’Motoca’’ 9 Ora

Entrevista Kêta: Banda It’s Only Rolling Stones

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