Ozempic, Mounjaro a nova era dos remédios para emagrecer
Nos últimos dois anos, uma revolução silenciosa vem transformando a forma como o mundo enxerga o emagrecimento. O surgimento de medicamentos como Ozempic, Mounjaro e Wegovy marcou o início de uma nova era, onde o remédio para emagrecer deixou de ser coadjuvante e passou a ser protagonista em clínicas, consultórios e redes sociais. No entanto, por trás dos vídeos virais e das manchetes, há uma série de fatores clínicos, culturais e comportamentais que merecem ser compreendidos com mais profundidade.
Não é a primeira vez que a indústria farmacêutica lança um produto com a promessa de ajudar na perda de peso. Contudo, é a primeira vez que o tema ocupa simultaneamente os trending topics, as pautas científicas e as rodas de conversa cotidianas. O que mudou? Basicamente, a chegada de medicamentos originalmente desenvolvidos para o tratamento do diabetes tipo 2 — mas que se mostraram altamente eficazes na regulação do apetite e na perda de peso de pessoas com obesidade ou sobrepeso. Embora ainda exista debate sobre o uso estético desses medicamentos, é inegável que eles trouxeram à tona novas reflexões sobre corpo, saúde e autonomia.

Além disso, o crescimento expressivo do uso desses remédios exige um olhar mais amplo. Afinal, estamos diante de um fenômeno que envolve medicina, autoestima, pressão estética, acesso desigual e muito marketing. Por isso, compreender os bastidores dessa tendência é essencial para tomar decisões mais conscientes, seja como profissional da saúde, seja como paciente ou cidadão.
Como funcionam os novos remédios para emagrecer
Medicamentos como Ozempic (semaglutida) e Mounjaro (tirzepatida) pertencem a uma classe chamada agonistas do GLP-1. Em termos simples, esses remédios atuam simulando um hormônio natural do corpo que regula o açúcar no sangue, o esvaziamento gástrico e a sensação de saciedade. Dessa forma, eles ajudam a reduzir o apetite, controlar os níveis glicêmicos e, como consequência, favorecem a perda de peso.
Esses efeitos foram observados inicialmente em pacientes com diabetes, mas os estudos clínicos mostraram que mesmo indivíduos sem a doença podiam se beneficiar da ação desses fármacos para tratar a obesidade. Isso abriu caminho para novos protocolos, especialmente com a aprovação da semaglutida para uso específico no emagrecimento com o nome comercial de Wegovy. No entanto, como o acesso ao Wegovy ainda é limitado, muitos pacientes têm utilizado o Ozempic off-label — ou seja, fora da indicação original.
Apesar da eficácia comprovada, os medicamentos exigem acompanhamento médico rigoroso. Eles podem causar efeitos colaterais como náusea, diarreia, constipação e, em casos raros, pancreatite. Além disso, a perda de peso costuma ser revertida caso o uso do remédio seja interrompido. Isso significa que ele precisa ser parte de uma abordagem integrada, que inclua alimentação, exercício e suporte emocional. Caso contrário, o risco de frustração e efeito sanfona é alto.
O boom nas redes sociais e o culto à fórmula mágica
Grande parte da popularidade recente desses remédios veio da internet. Vídeos no TikTok e Instagram acumulam milhões de visualizações mostrando antes e depois, rotinas de aplicação e resultados rápidos. Celebridades como Elon Musk, que admitiu o uso de semaglutida para emagrecer, ajudaram a alavancar o interesse popular. Com isso, o remédio para emagrecer deixou de ser tabu e virou quase um produto de lifestyle.
Esse movimento trouxe visibilidade, mas também distorções. Muitos conteúdos ignoram os riscos, transformam o remédio em atalho mágico e promovem a automedicação — prática perigosa e potencialmente danosa. Há relatos de pessoas comprando as canetas injetáveis em sites não confiáveis ou sem orientação médica, o que pode causar efeitos colaterais graves e mascarar condições de saúde mais complexas. Por isso, a informação responsável é fundamental nesse cenário.
Outro aspecto delicado é a associação entre perda de peso e sucesso, algo que pode intensificar a gordofobia estrutural e agravar distúrbios alimentares. A narrativa de que basta usar um medicamento para “resolver” o corpo ignora a diversidade de biotipos e as múltiplas causas do sobrepeso. É importante reforçar que emagrecer não é sinônimo de saúde — e que o uso de remédios deve estar inserido em uma conversa mais ampla sobre bem-estar físico, emocional e social.
Quando o remédio é indicado — e quando não é
A indicação de um remédio para emagrecer deve ser feita com base em critérios clínicos e sempre por um profissional capacitado. De modo geral, esses medicamentos são recomendados para pessoas com IMC acima de 30 (obesidade) ou acima de 27 (sobrepeso com comorbidades), que não conseguiram resultados satisfatórios apenas com mudanças no estilo de vida. Ainda assim, o médico deve avaliar histórico de saúde, predisposição a efeitos colaterais e objetivos reais do paciente.
É importante lembrar que esses remédios não são cosméticos. Eles atuam em sistemas hormonais complexos e exigem acompanhamento contínuo. Portanto, o uso por pessoas com IMC dentro da faixa considerada saudável, apenas por fins estéticos ou para eventos pontuais, é desaconselhado por sociedades médicas como a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Isso porque o risco-benefício nesses casos pode não justificar o uso.
Além disso, vale destacar que os resultados são mais efetivos quando o paciente também adota outras práticas de saúde. Comer com consciência, mover o corpo com regularidade, dormir bem e cuidar da saúde mental são pilares indispensáveis para que a perda de peso seja sustentável. Não à toa, práticas como o autocuidado minimalista têm ganhado espaço, pois mostram que o bem-estar é construído de dentro para fora.
A desigualdade de acesso e o debate ético
Outro ponto crítico da popularização desses medicamentos é a desigualdade no acesso. Enquanto celebridades e pacientes com alto poder aquisitivo conseguem manter o uso por meses, boa parte da população não pode sequer cogitar o tratamento, devido ao custo elevado. Isso gera um paradoxo: embora o remédio exista, ele está longe de ser acessível para quem mais precisa. O valor de uma caixa pode ultrapassar mil reais por mês.
Esse cenário levanta questões éticas importantes. Como garantir que um recurso com potencial de saúde pública não fique restrito a uma minoria? Como equilibrar inovação, segurança e equidade no sistema de saúde? Esses dilemas exigem políticas públicas, debates científicos e educação em saúde para que a busca por soluções não se transforme em mais uma forma de exclusão.
Além disso, o marketing agressivo de clínicas e influenciadores reforça a ideia de que o corpo ideal está a um passo — basta aplicar uma injeção. Esse discurso, embora sedutor, mascara a complexidade da saúde humana. Por isso, conteúdos de qualidade e experiências reais, como as descritas no artigo sobre autocompaixão no dia a dia, são essenciais para equilibrar a narrativa com mais empatia e informação.
Caminhos para um uso consciente
A nova era dos remédios para emagrecer exige, acima de tudo, responsabilidade. Médicos, pacientes, mídia e indústria precisam atuar em conjunto para que os avanços da ciência beneficiem quem realmente precisa, sem alimentar ilusões ou riscos desnecessários. A informação de qualidade é o primeiro passo para empoderar escolhas e evitar armadilhas.
Se você está considerando iniciar um tratamento com esse tipo de medicamento, o mais importante é buscar orientação profissional. Avalie seus objetivos com honestidade, converse sobre riscos e expectativas e construa um plano que respeite seu tempo e seu corpo. Nenhum remédio substitui o compromisso com o cuidado — ele apenas pode ser um aliado, se bem usado.
No mais, lembre-se: seu valor não está no número da balança, e sim na forma como você se sente. A saúde verdadeira é aquela que sustenta a vida com alegria, autonomia e dignidade. E nenhum medicamento pode oferecer isso sozinho — mas você pode construí-lo, passo a passo, com informação e consciência.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.