Revolução da Vaidade Masculina

Revolução da Vaidade Masculina. Por Lucas Machado

Revolução da Vaidade Masculina

Um Novo Paradigma de Autocuidado

Creme hidratante, protetor solar, depilação, perfume, desodorante íntimo, implante capilar, aplicação de botox, roupas da moda, sobrancelha desenhada, colares e pulseiras. Esses itens e tratamentos estéticos, além do tradicional trio barba-cabelo-bigode, que ganhou incrementos e inovações, fazem parte da rotina de autocuidado de muitos homens hoje. Quarenta e três por cento deles, aliás, se consideram “supervaidosos”, como indica uma pesquisa da Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos).

O conceito de vaidade masculina tem passado, de alguns anos para cá, por uma importante transformação. O mercado de cuidados pessoais focado no homem, no Brasil, representa 13% das vendas do setor no mundo — faturando bilhões —, segundo uma pesquisa da Euromonitor, e atesta essa mudança que, cada vez mais, supera barreiras e tabus machistas que geralmente a associam a futilidades de mulher.

A Evolução do Cuidado Masculino

Cuidar da pele, se maquiar e acompanhar as últimas tendências fashion não é um fenômeno masculino recente, mas essa forma de expressão atual, de se ver e de ser visto, e a aceitação social desse quesito, evolui notadamente. Homens de todas as idades estão cada vez mais investindo em sua aparência, deixando para trás preconceitos que limitavam suas opções de autocuidado.

Benedito Medrado, professor do departamento de psicologia da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e coordenador do Núcleo Feminista de Pesquisas em Gênero e Masculinidades, ressalta, no entanto, que a vaidade, historicamente associada ao universo feminino, também sempre esteve presente em figuras masculinas poderosas, como os monarcas franceses. Esses líderes gostavam de ostentar a própria imagem usando perucas, maquiagem e roupas elaboradas como símbolos de poder.

Medrado também relembra o rei dos cangaceiros, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, que, antes da entrada de Maria Bonita e de outras mulheres no cangaço, era quem produzia as roupas do bando. Depois, com a entrada das mulheres, as moças ficavam com a tarefa de costurar, porém, Lampião continuava sendo o estilista do grupo. Há quem diga que seu clássico chapéu tem inspiração no acessório de Napoleão Bonaparte. “Lampião tinha uma perspectiva estética de vaidade muito forte”, comenta Medrado.

Desconstruindo Preconceitos

Medrado destaca que, atualmente, certos preconceitos podem surgir porque, ao considerarmos a vaidade como uma exposição para o outro, como as indústrias da moda e da estética construíram esse conceito, surge uma ideia de que a vaidade da mulher esteja “a serviço do outro, e não do próprio valor” e se deva a um “decorrente desejo de aceitação e, por isso, seja considerada uma objetificação do corpo feminino”.

No entanto, conforme salienta Medrado, qualquer análise a respeito do assunto deve partir de marcadores sociais de raça, classe e faixa etária, assim como devem ser analisados contextos e tempos. Às vezes, o que num momento é considerado vaidade, noutro pode ser visto como desleixo. Um exemplo disso é a barba.

“Tenho 52 anos e sou de uma geração que por muito tempo viu a barba como sinônimo de sujeira ou descuido. Mas nos anos 2010, entre 2012 e 2014, eu vi muito bem uma mudança nessa perspectiva acontecer. Lembro que, certa vez, estava no aeroporto e reparei que todos os homens na fila do embarque estavam barbados”, comenta Medrado. Ou seja, assim como a história, que é pendular, modas vêm e vão.

A vaidade masculina, longe de ser uma tendência passageira, estabelece-se como um novo paradigma de autocuidado e expressão pessoal. Homens de todas as idades e estilos encontram na vaidade uma ferramenta poderosa para melhorar sua autoestima e bem-estar. A transformação cultural e social em torno desse tema reflete uma sociedade em constante evolução, onde os cuidados pessoais são valorizados e incentivados, independentemente do gênero. Assim, o homem moderno contribui para a diversificação dos padrões de beleza e abre caminho para uma sociedade mais tolerante e receptiva às diversas formas de expressão.

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